Powered By Blogger

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Subversão

Os conflitos sustentam minha existência
E propagam meu espírito
Para além de tudo que é infinito
Longe, porém,
Muito longe,
De tudo que é finito

Os clusters no meu cérebro se misturam
Através das paredes irrompidas
Espalhando retalhos multicoloridos
Para aquém de tudo que é finito
Perto, porém,
Muito perto,
De tudo que é infinito

Várzea da Palma, 05/07/2006

domingo, 30 de janeiro de 2011

Moderação


O álcool é a amante que não tem hora
Nos desonra, nos bem trata e vai embora.
E nos deixa sozinhos
Envolvidos no fiasco
De sonhos em cascos
Embalado nos cacos
Sóbrios e intactos,
Ligeiramente,
Vazios.

Brasília, 04/10/2005. 

sábado, 29 de janeiro de 2011

Autenticidade


Hoje eu vejo
Que o tempo não passou.
Esticou-se, apenas,
Num diâmetro imperfeito,
E de tamanho quase infinito,
Maior que a própria imaginação.
E assim, num canto qualquer,
Ainda posso viver
Tudo o que sempre quis
Tudo que eu sempre quiser!

Mas por medo explícito em meu coração
De reencontrar a felicidade,
Adio a minha decisão...

Postado no centro do palco,
Ornamentado de holofotes,
Abro um sorriso enfadonho,

E em humilde reverência

Me curvo ao fardo insuportável

Que embrulha os meus papeis.

Arranco aplausos intermináveis
Da insaciável platéia feliz,
Ávida pra ser como eu
Um pouco menos infeliz!

Boa Vista, 22/07/2004.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Transitório

Virei as costas para as horas
E atrasei o relógio da Matriz
Não fui feliz nem infeliz
Na essência consenti
Que tudo o que vivi
Me garantisse no agora
A fugaz eternidade
Daquilo que não vivi!

Manaus, 23/04/2009.

De rosas e liberdade

Roseiras enfeitam muros
Que garantem a liberdade.

E nossas crianças protegidas
Aspiram rosas coloridas
No perfume da TV.

Enquanto beija-flores atrevidos
Adulteram o néctar das rosas
E recriam aquarelas mentirosas.

Meaípe, 31/10/2009.  

Sonho fixo


Sou nômade,
Assim como o foram
Os meus modernos ancestrais.

Nada demais!
Ter endereço fixo,
Residência fixa,
E fixar-me nas trilhas
Que não me levam
E nem me trazem!

Meaípe, 27/10/2009

Mundo animado


Cutuco onça com vara curta
E refugio-me amedrontado
Na proteção segura da tela
Do meu micro computador.

Refeito,
Abro janelas
Recupero telas
E as onças virtuais
Engasgam-se famintas
Com seus restos mortais!

Meaípe, 27/10/2009.

Indícios modernos


Minhas pegadas na areia da praia
Soterram pontas de cigarros
E restos de algas trazidas de longe
Que molduram os limites das ondas

O balanço sonoro das marés
Inconfundível se confunde
Com o ronco dum caminhão tresloucado

O mar se quebra no asfalto
E de quebra
Quebra sem pressa
O asfalto apressado.

Meaípe, 27/10/2009

Testemunho de fé

À noite minha mãe
Dialogava com Deus
À luz frouxa da lamparina.
Do meu jirau aos pés da cama
Testemunhava encantado
As confidências divinas.

Meu pai cochilava ajoelhado

Aos versos maquinais da ladainha

Orava por nós
O ora pro nobis!
E o sono por pura maldade
Abotoava sem ter piedade
Os meus olhos contemplativos!

Boa Vista, 28/09/2004

Acorrentado


O amanhã virá.
Certamente virá!
E o amanhã será hoje
O hoje será ontem
O ontem será nunca
E o nunca será sempre.

Não sou ainda o velho que me veem
Nem mais o jovem que me suponho.

Sou uma síntese pacata do tempo
Escorregando contra o tempo
Acorrentado à liberdade
Do tempo que se foi!

Boa Vista, 25/01/2004

Em algum lugar

 
Em algum lugar


O horizonte finda atrás do morro
Se morro finda o horizonte
E em novos horizontes
Renasce a vida
Sina bem acima
De qualquer sina


O amor eterno é passageiro
E finda-se atrás do morro
Reinventando caminhos
Revela nos caminhos
Horizontes e vales
E morro.
E vale.

Manaus, 30/10/2002.

Rota de colisão

Desvio sutilmente meus sentidos
Da direção inversa do coração
E deparo com outros sentidos
Invertidos, invadindo a contramão.

O que se passa, penso eu,
Ou o rei perdeu o seu trono,
Ou foi o sol que não ascendeu?...

Minh' alma, porém, resgata os sentidos
Na direção inversa da ilusão
E sussurra leve em meus ouvidos
Os sons avessos da solidão.

São João del-Rei, 28/08/2005

Solidariedade


Eu quisera
Compartilhar meu mundo
Com todo o mundo.
O meu pequeno mundo
É vasto em contornos
E cabem dentro de si
Tantos outros mundos
Que sequer nunca os vi.

Existem, porém,
E não se estendem além
Das fronteiras laterais
Dos meus limites pessoais
Que ofuscam tantos sóis
Muito aquém dos entornos
E dos contornos de mim!

Boa Vista, 22/12/2004.

Estação primavera


Andorinha fez verão
Sozinha no fio
De alta tensão.

Uma bomba explodiu
Outro preso fugiu,

Andorinha bateu asas
Muito longe foi morar
Noutro sonho possível
Novo verão inventar!

Veio o outono e espalhou
Folhas secas pelo chão
O inverno frio congelou
Seu ardente coração.

Se existe primavera?!...
Andorinha voltou não,
Não trouxe ramo no bico
Não me disse,
Não sei, não!

Manaus, 10/10/2002

Pássaro que volta!

Esqueço os ninhos
Renego os amores
Renuncio à vida...

Faço-me embrião
E regresso sedento
Ao útero materno.

Manaus, 30/10/2002.

Pássaro que vai...

Abro as asas
Ensaio o meu vôo.
As árvores são altas
Os mares profundos
Infinitos os mundos
Em finita imensidão
Intuição... Aspiração!

Há diversos caminhos
Adversos caminhos...
Infindáveis no espaço
Entrelaçados no tempo
Na direção que vem...
Na direção que vai...
Sem direção se esvaem!

Em meio às correntes
Ostento o meu voar
E sustento-me no ar!

Abandono o velho ninho
Livre e solto no caminho
Desvendo novos ninhos
À procura de amores...

Ou encontro o que deixei...
Ou procuro o que não sei.

E em plumas e rochas
Suspensas no ar
Restauro a vida!

Manaus, 30/10/2002.

Sociedade líquida


   (em homenagem a Zygmunt Bauman)

Sou líquida matéria
E tomo a forma de mim mesmo
Nesse oceano petrificado
De grifes de pronta entrega.

A minha essência indelével
Que me legou a eternidade
Escapa através dos vitrais
Das modernas catedrais.

Num bazar de shopping center
Apresento em oferendas
Todo o vazio do meu ser!

Sem medidas reabasteço
Um insaciável carrinho
Coalhado de ambições

E desprovido de ilusões!


Corinto, 05/10/2006.

Vida que segue

O meu coração é feito de sonhos
E quando eu acordo
Meu coração dispara
Diz para
E para!

E sem sangue em meu cérebro
Desmaio e adormeço
E dormindo eu sonho
Sonho de novo
Um sonho
Novo.

Boa Vista, 02/07/2004.

Contornos e sentidos

Tudo o que existe
Existe dentro de mim.
O que há lá fora
Não passa, muito embora,
De mera quimera!

O meu cachorro é diferente do seu,
Ainda que seja o mesmo ele é só meu.
E traz na sua história a nossa história
De significados, símbolos e sentidos,
Compreendidos, apreendidos e aprendidos,
Em experiências singulares
Na relação impessoal,
Única e intima...
Universal.

Boa Vista, 26/06/2004.

Ter e ser


Esse meu corpo pesado
E a minha alma (des) cansada
Não pertencem a mim.

Não sou dono de nada
Nem da roupa que me cobre
Nem das flores do jardim!

Sou, contudo,
Parte de tudo.

Sou o fio do novelo
Que tece a teia do universo
Sou matéria das estrelas
Semeada a céu aberto...

Sou essência condensada
Sou semente emprestada
Desse chão que me brotou!

São João Del-Rei, 15/07/2009