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quinta-feira, 31 de março de 2011

Reflexos no espellho

Não tenho tido tempo
Nem para ver passar
Esses novos tempos!

O meu espelho, porém,
De qualidade dubitável
Insiste em exibir-me
Precipitadas imagens
Sob novas montagens
Dum novo desconhecido
Modernamente vestido
Com velhas roupagens.

Boa Vista, 01/06/2004.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Prosseguimento

Eu conto as horas
Nas camisas molhadas
Quaradas nos varais
De várias cores.

Eu canto as horas
Encarnado nos palcos
Depravados!
Armados nos circos
Encantados!
Repletos de dores
E de amores.

Boa Vista, 12/11/2004

terça-feira, 29 de março de 2011

Lugar perfeito

Utopia,
O lugar perfeito
Ou lugar que não existe
Na geografia cartografada.

Existe, contudo, no meu peito,
Situa-se no limite do horizonte
E me faz caminhar sem pressa
Em direção a mim mesmo!

Várzea da Palma, 31/07/2006

segunda-feira, 28 de março de 2011

Cidadania


Ganho um registro
E me dizem cidadão
Viro número do censo
E do consenso da nação!

Mas quando o sol de cada dia
Rompe o véu da escuridão,

(Alheio ao poder da certidão
Atestar-me matuto ou cidadão),

Embrenho-me frenético na brenha
À captura do meu pão
Que salta intrépido e ligeiro
Fugindo sem qualquer direção!

Várzea da Palma, 04/06/2005

domingo, 27 de março de 2011

Sinal de quê?

O desafio maior é entender
Se o hoje
É dia a mais
Ou dia a menos.
Se é sinal de adição
Ou simples subtração?!

O grande desafio da vida
É entender o movimento
Espontâneo da vida
A impulsionar
A própria vida!

Boa Vista, 04/09/2003.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Lições do tempo


O tempo com o dedo em riste
Contempla, não sei se zomba,
Da vida discreta a despencar-se
Através das cachoeiras enrugadas
Catalogadas no mapa
Dum velho semblante juvenil!

Boa Vista, 12/10/2004

quinta-feira, 24 de março de 2011

A fé de cada dia

O sol escorre pelas janelas
Inspeciona casas e capelas
Ilumina as almas e os anjos
De pujantes encantos
Em cantos virginais.
O padre almoça frango
Enquanto noutros cantos
Abelhudos meninos bisbilhotam
A sua santidade e a sobremesa

A fidúcia o turíbulo incensa
O sonho ultrapassa montes
Enquanto a pomba da paz
Repousa sobre o mesmo altar
Onde se imola a esperança

Alados são todos os sonhos
Alados são os sóis nascentes
E sem asas voam esperanças
Qual a fumaça dos incensos
Enquanto espíritos errantes
Vagando nas asas da fé
Professam outra fé
Sustentados pela fé
Que não confessa
A própria fé.

Boa Vista, 08/12/2003

quarta-feira, 23 de março de 2011

Além da alma



Não,
Não quero de novo
O colo da minha mãe.
Dele algumas vezes caí
É bem verdade, sobrevivi.
Quero o seu útero
Suave e sem riscos
Como antes do existir!

E se depois do fim
Houver o fim,
Por que castigo
Nasci?

Mas se por fim
Não houver o fim
Mais insana ainda
Em algum lugar
A minha alma
Há de vagar!

Boa Vista, 07/03/2003

terça-feira, 22 de março de 2011

Entre moendas

Sou filho do nada
Dessa explosiva energia
Absorvida no absoluto repouso
Dos movimentos exprimidos
Entre tempos e lugares todos!

O presente é um presente
Tão doce quanto a garapa
Apertada entre as moendas
Do passado e do futuro:
Poderá tornar-se em rapaduras
Ou infiltrar-se nas rachaduras
Da terra estéril e ressequida
Que no plantio preparei!

Boa Vista, 08/02/2004

segunda-feira, 21 de março de 2011

Estrela do norte


Esperança
Experimento humano
Invento profano.
E por ser eterno,
Deus não a conhece,
Por não necessidade.

Em fumaça irradiante
Imprime força avassalante
Exprime flamas abrasantes,
Completas de veracidades
E repletas de voracidades,
Em busca de verdades
Do provavelmente
Improvável.

Dividido
É o meu caminho
Prossigo
Sou ser sozinho
Tal e qual
Meus irmãos de fortuna.

Minha dor é minha dor
Minha cor é minha cor
Nenhum vento, porém,
Há de desviar-me por sorte
Da minha estrela do norte!

Boa Vista, 22/12/2004

domingo, 20 de março de 2011

Reencontro marcado

Hoje com o ontem me encontrei
E de nada dele me envergonhei
Visitei o jazigo das promessas
Vi pessoas que o tempo não levou
E brinquei com cavalos de pau

Saudosista?
Talvez a saudade não exista,
Por ser vida vivida

Mas o meu coração de criança
Contenta-se com esperanças
Semeadas nas lembranças.

Boa Vista, 07/10/2004

sábado, 19 de março de 2011

À minha mãe

Os sonhos e a fé na vida
Herdei da minha mãe!
Mulher de parcas palavras
Tinha olhos no coração
E a sabedoria dos doutores.

Em doces e toadas de ninar
Embalava o mundo a cantar!

Como não sonhar
Se o almoço e o jantar
Eram sonoras canções?

Fiz-me adulto na infância
Hoje crescido sou criança
Seu colo distante lembrança

Trago nas veias e na memória
Vivas sua coragem e ousadia,
Não sei cantar, apenas sonhar,
Afago o mundo com a poesia.

Boa Vista, 12/03/2003.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Roupa nova

Muda a roupa, entra na moda
Rasga a roupa, muda a moda
Apaga a moda, muda a mostra
Mostra a muda de roupa nova
Nova e na moda!

E para não envelheceres
Rasga o teu pudor
Tira a velha roupa
Mostra a tua cor

Rasga a tua tez
Despe-te de vez
Escancara a nudez

Vísceras e alma à mostra
Mostras o teu ser!

Boa Vista, 20/08/2003

quinta-feira, 17 de março de 2011

Censura

As cenas de sexo
Que explícitas assisto
Ao vivo e em VT
Desnudam por completo
Minha casta candura...

Inocência pura
Comparar a genitália
Às cenas de batalhas
Livres e ao vivo
Nas telas da TV!

Boa Vista, 05/11/2003.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Meu limite

Pescador sei que sou
E nos limites vivendo
A barranca me ensinou
Que há margem segura
Entre andar ou nadar:

Um passo aquém...
E o meu peixe se vai.
Um passo além...
E pescador não sou mais!

Boa Vista, 21/06/2003

terça-feira, 15 de março de 2011

Histeria


Sinto a tua voz

E o meu coração se arrepia

Euforia?
Tanto faz!
Sou fruto da histeria
De que o teu amor é capaz!

Boa Vista, 12/10/2004

segunda-feira, 14 de março de 2011

Linha infinita

Por tempos quis minha estrada reta.
E de tanto me quebrar percebi
Que as curvas são necessárias
Na lida de seguir em frente
Rumo ao ponto de partida.

Hoje vejo que o amanhã
Está no ontem presente
E que os frutos do pomar
Nutrientes dos meus filhos
Sustentaram os meus ancestrais.

Boa Vista, 25/07/2004

sábado, 12 de março de 2011

Diário duvidoso

Continuam as páginas abertas
Na certeza de que algo será escrito
Mas nada foi escrito
Na verdade está tudo prescrito

A não ser as páginas em branco
Que se fecham ao sabor das tardes
Movidas pela força dos ventos
Que não voltam no dia seguinte

A não ser as páginas embotadas
Que não sentiram o néctar da pena
Conformar-lhe os seus pensamentos
Pelas linhas tortas e sem pena!

São João del-Rei, 12/03/2011.

Apego

Amigos, os quero todos!

Mesmo os que incertos

Insistem, como decerto,

Na tese do faz de contas...

 

Ou pode ser que a sede da alma

Não se sacie, por completo,

Nas profundas superfícies

De seres incompletos!

 

Ah!... E o que importa?

Profundidade é o avesso

Do raso espelho reflexo

A libertar imagens desconexas

De cada coração profundo

Em todos os seres do mundo!



Boa Vista, 21/07/2003

sexta-feira, 11 de março de 2011

Desatenção

Fiz do sol o meu brinquedo predileto
E o guardei debaixo da cama
Para as horas de insônias no inverno

As horas ficaram estacionadas
E o sol sem perceber envelheceu
Nos arredores discretos
Dum shopping moderno!

Tentei reanimá-lo
Mas o vento e a tarde fria
O levaram sem regalias
Para um pronto socorro qualquer!

São João del-Rei, 11/03/2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

História moderna

Pedras lascadas
Lascas nas mentes
Mentes lacradas
Pedras nas mentes

E eu que nem tenho machadinha
Rezo contrito de mãos postas
A interminável ladainha...

Boa Vista, 05/10/2004

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quarta de cinzas

O sol quebra o ritmo dos tambores
E ao silenciar a manhã dançarina
Recoloca a vida na passarela.

Sobrepõe-se o cinza sobre a tela
Numa névoa em serpentina
Que vela a vela que revela
Aos âmagos inquietos
Ansiosas e incontidas incertezas...

A realidade, todavia, se descortina,
Em vias vazias e cristalinas
Nos recônditos mais profundos
E ditam novamente
O ritmo da vida!

São João del-Rei, 09/03/2011

terça-feira, 8 de março de 2011

Mulher

Poderia chamar-te de flor,
Caso a flor não murchasse,
Poderia chamar-te de amor,
Caso o amor não findasse!

Posso, contudo, chamar-te de mãe,
Porque exaltas o dom de gerar!
E como mãe, chamar-te de flor
Porque trazes o dom de enfeitar
E sendo flor chamar-te de amor
Porque consagras o dom de amar!

E em meio às tarefas e agendas
Desejos, filhos e contendas,
A roda viva desvenda-te
Uma lágrima no olhar!

Paras de súbito ante o espelho
Entre o batom e o salto alto
Faze-te confusa em sobressaltos
Em frente aos tantos papéis
Que a vida te obriga a viver.

E por seres forçada a escolher
Abdicas de outros quaisquer...
Ostentas por legítimo prazer
O teu pulcro papel de mulher!



Boa Vista, 05/03/2004 ( uma homenagem a todas as mulheres pela passagem da semana internacional da mulher)

domingo, 6 de março de 2011

Neurose coletiva

Minhas neuras e eu no jantar
Minhas neuras não sou eu...
Sou a própria neura popular

Peço uma pizza pequena
Quatro nacos sobre a mesa
Um por certo me alimenta
Dois por si me satisfazem
Três agora me empanzinam
Quatro logo me enfastiam.

E aquele infante na esquina
Que nem de pizza ouviu falar
Apenas sonha com as migalhas
Em sua neurose por jantar!

Pago uma conta e vou embora
E a outra permanece sem pagar!

São João del-Rei, 18/07/2007.

sábado, 5 de março de 2011

Bloco na rua

A banda do Zé Pereira
Existe uma em cada esquina
Mais legítima e mais bela,
Resgata na passarela
Frevo, samba e aquarela.

Adultos, moços e crianças
Rasgam velhas fantasias
Vivem novas fantasias
Alegorias...
Euforias...
Alegrias...

Bate, bate, bate o bumbo
Bate seco sem parar!
Bate forte em cada peito
Baita desejo de amar!

A cuíca nua copula ao repique da bateria
A mulata rebola nas bordas de um pandeiro
O mundo libidinoso estremece frente a TV
Carne exposta, produto nobre, exportação
Sexo implícito, explícito desejo, encarnação.

Se é bom ou ruim?
Carnaval é assim!...

Boa vista 03/03/2003

sexta-feira, 4 de março de 2011

Pensando bem...

Meu coração surpreende-se
Quando não penso em você
Meu coração repreende-me
Quando penso em você.

E assim,
Minha alma que é vadia
Insiste na fantasia
De condenar-me à solidão!

Várzea da Palma, 07/10/2006.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Um ponto qualquer

Sou apenas um ponto
Num ponto marcado
D’outro ponto qualquer.

Que por certo é um ponto
Difuso no confuso
Infinito do Universo.

E que não passa simplesmente
De um ponto piscando
Intermitentemente
Na minha mente!

Belo Horizonte, 22/03/2006

quarta-feira, 2 de março de 2011

(In) decisão

Às vezes parcialmente concordo
Noutras parcialmente discordo
E o que isso importa,
Se nas páginas dobradas
Do velho diário sem sal
Grafaram-se a ferro e fogo
Ou o não ou o sim
Sem rodeios
Sempre assim?

Várzea da Palma 01/12/2005

terça-feira, 1 de março de 2011

Mundo próprio


Num mundo de lodos e de flores
Borboletas escorregam no vento
Rosas rosas e multicores
Nascem no caule espinhento

Só o homem
Burocrata e tecnólogo
Desconfia das rosas e das crisálidas
E inventa um relógio adiantado
Que atrasa o tempo das flores
E congela as estações!

Boa Vista, 01/03/2011